terça-feira, 20 de junho de 2017

Hoje foi o dia.

Foi uma coisa que me passou à frente.

Assim, de repente.

Enquanto lia os relatos dos que perderam tudo no incêndio de Pedrogão Grande (sem perceber bem qual a dimensão da palavra 'tudo') só desejava poder ajudar.

Mas como?

Fácil.

Há quem não tenha coisas que precisa.

Cá em casa não há espaço. E há roupa.... e sapatos teus, que já não precisas.

Até agora, achava que não fazia sentido desfazer-me das tuas coisas. Ainda podem ser precisas. São tuas. Deixa-as ficar.

Não me importo de sentir uma ferida no coração cada vez que abro a tua gaveta. Sinto-a por ti.

Hoje, achei que fazia todo o sentido serem doadas à terra da tua mãe. Aos descendentes de quem com ela cresceu e brincou.

As coisas acontecem quando têm de acontecer.

Sem me custar tanto como temia, agarrei nas tuas camisas, pólos, casacos, pijamas e sapatos. Afundei a minha cabeça na tua roupa e inspirei o mais fundo que consegui. O teu ar. Pela última vez.

Agora vão. Apanhem boleia dos bombeiros....

Vão para onde façam falta. Onde voltem a ter vida.

Quem sabe até, vão percorrer os caminhos que tu antes percorreste em criança. Seria simpático.

Espero que estejas orgulhoso de mim. Acho que fiz o correto.


Ahhh e sabes que mais?

A casa ficou com mais espaço. :)




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Tenho 36 anos e sou viúva *

O meu marido foi descansar em janeiro de 2017 . Digo foi descansar, porque acredito que só morre verdadeiramente quando nos esquecer-mos...