Foi uma coisa que me passou à frente.
Assim, de repente.
Enquanto lia os relatos dos que perderam tudo no incêndio de Pedrogão Grande (sem perceber bem qual a dimensão da palavra 'tudo') só desejava poder ajudar.
Mas como?
Fácil.
Há quem não tenha coisas que precisa.
Cá em casa não há espaço. E há roupa.... e sapatos teus, que já não precisas.
Até agora, achava que não fazia sentido desfazer-me das tuas coisas. Ainda podem ser precisas. São tuas. Deixa-as ficar.
Não me importo de sentir uma ferida no coração cada vez que abro a tua gaveta. Sinto-a por ti.
Hoje, achei que fazia todo o sentido serem doadas à terra da tua mãe. Aos descendentes de quem com ela cresceu e brincou.
As coisas acontecem quando têm de acontecer.
Sem me custar tanto como temia, agarrei nas tuas camisas, pólos, casacos, pijamas e sapatos. Afundei a minha cabeça na tua roupa e inspirei o mais fundo que consegui. O teu ar. Pela última vez.
Agora vão. Apanhem boleia dos bombeiros....
Vão para onde façam falta. Onde voltem a ter vida.
Quem sabe até, vão percorrer os caminhos que tu antes percorreste em criança. Seria simpático.
Espero que estejas orgulhoso de mim. Acho que fiz o correto.
Ahhh e sabes que mais?
A casa ficou com mais espaço. :)
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